Narração do Ruben:
Chegamos a casa dos meus pais e depois das apresentações, estivemos á conversa… Uma conversa normal, lembrei-me então da Leonor e do que tinha acontecido hoje de manhã. Eu não devia tê-la tratado assim, ela estava de certeza chateada comigo e com razão. Afinal ela só estava a tentar ajudá-los…
Estávamos á conversa na sala, quando a campainha tocou e fui abrir. Eram o David e a Leonor. Eles entraram e pedi desculpa á Leonor pelo que tinha dito, desculpas que ela por fim aceitou e ainda demos um daqueles abraço mesmo á crianças…
Ela entrou, vi que era o Mauro que me estava a ligar aprecei-me a atender…
- Mauro!
- ‘ Olá mano, é só para avisar que sou capaz de chegar um bocadinho atrasado ao almoço. Desculpa.’
- Tudo bem. Não faz mal. Até já.
- ‘Até já.’
Segui para a cozinha onde eles estavam a conversar com a minha mãe, tentei parecer sempre animado e depois da minha mãe ter negado a oferta delas para a ajudarem seguimos par a sala…
Sentamo-nos no sofá… Ia conversando com a Leonor, eles não se pronunciavam…
- Estão muito calados.
- Não temo nada pa dize manz. – respondeu-me o David cabisbaixo
- Agora, vocês podem ter. – insinuou a Joana
- Outra vez isso? – dissemos eu e a Leonor ao mesmo tempo
E por fim, eles sorriram…
- Já combinam e tudo.
- Cês não tão mesmo escondendo nada pa gente?
- Não. – respondeu a Leonor
E nesse momento a porta de casa abre-se… Era o meu pai.
- Bom dia. – disse sorrindo
- Bom dia. – respondemos
- Muito bem acompanhados os meninos.
Olhei-as e elas coraram…
- Eu sou o Virgílio, pai desta peste.
- São a Joana. – apontei e ele cumprimentou-a com dois beijos – E a Leonor. – fez o mesmo e cumprimentou também o David
- Acho que vai ser um bocado difícil saber quem é quem, mas…
- Não faz mal. Já estamos habituadas. – respondeu a Joana.
- Sim, não se preocupe.
- Então que se passa contigo David? Estás muito estranho rapaz.
O meu pai percebeu… Também não era difícil. O David que sempre foi animado por si só, estava cabisbaixo…
- Nada não. É só cansaço, dormi mal essa noite.
Deu uma desculpa esfarrapada… Mas o meu pai não ficou nem um pouco convencido, já conhecia o David suficientemente bem…
- De certeza? – perguntou desconfiado
- Claro. - sorriu
- Se tu o dizes.
- O almoço está pronto. Para a mesa.
Levantamo-nos e fomos para a mesa…
- O Mauro?
- Vai chegar atrasado.
- Namorada nova?
- Que eu saiba não. Mas com ele nunca se sabe.
- E vocês meninos, também não á namorada nova? – pelo tom de voz insinuou mesmo alguma coisa
- Não. – respondemos eu e o David ao mesmo tempo, que também deve ter percebido o que o meu pai quis dizer
- Oh, meu filho, ainda não é agora que tenho uma nora? E não é tão cedo que tenho netinhos?
- Ui. Onde ela já vai.
- Então Ruben, tens que começar a pensar nisso. – disse a Joana
- É manz. Tá na idade. – gozou-me
- Se calhar ninguém me quer como sogra
- Oh. Você daria uma sogra fantástica. – disse a Leonor
Ia falar… Mas fui interrompido…
- Se calhar ninguém quer é o Ruben. Talvez o problema seja ele, que não consegue arranjar namorada. – disse o Mauro entrando na sala
- Olha que eu não sou filho único. – ripostei
- Tinha que sobrar para mim.
- Tu é que provocas-te filho. E ele tem toda a razão. – respondeu o meu pai
- Não, não tem.
- Então quando nos apresentas a tua namorada? – desta foi a minha mãe
- Estou cheio de fome. – desconversou
- Á quanto tempo? – piquei-o
- Ruben? – advertiu a minha mãe
- Desculpa. – pedi
- Então as famosas manas, Joana e Leonor. Sou o Mauro. – sorriu-lhes
Elas olharam-no com admiração, afinal, ele sabia o nome delas.
- Deixem-me adivinhar. Como é que sei os vossos nomes? Já ouvi falar muito de vocês. – sorriu
Estava para mata-lo… Eu tinha-lhe falado nelas, sim… Mas em nada de muito especial, ele estava mesmo a ver se me enterrava.
- Não é maninho? – decididamente estava a vingar-se – Mas duas? Não te chagava uma? Tá bem que elas são iguais… e lindas… e giras… com um…
- Estás a atirar-te a nós? – perguntou a Leonor interrompendo-o
- Se não o fizesse é porque não estava bom da cabeça.
- Eu não acredito que estás a fazer isso!
- Desculpa, eu não sou como o meu irmão.
- O que tem o teu irmão? – perguntei
- Para seres amigo delas á tanto tempo.
- O que é que tu queres dizer com isso?
- Que ou andas chego, ou viras-te.
- Mauro!? – a minha mãe e o meu pai interferiram
- E o David também. Só falo do Ruben. Vocês têm a certeza que ainda jogam neste campeonato?
- Mauro, não estou a gostar. Estás a envergonhar as meninas.
- Deixe Bela. O Mauro fala, fala, mas quem não deve andar neste campeonato é ele. – disse a Leonor
- Só tem garganta. – completou a Joana…
Risota total… Os meus pais ficaram admirados com a espontaneidade delas e não resistiram também… Já o Mauro não achou muita piada, ficou a olhá-las incrédulo.
- Acho que cê ficou mal agora.
Ele não respondeu, continuou a comer… Continuamos com o almoço, mas os meus pais começaram com as perguntas…
- Então e os meninos, levaram estas lindas meninas ao jogo? – perguntou o meu pai
- Pa verem aquele resultado nem valia a pena. – disse o David
- Só se for para passar vergonha. – continuei
- Nós fomos. E não jogaram nada mal, aquele arbitro é que, enfim.
Instalou-se um silêncio naquela sala…
- Bem, o almoço está óptimo Bela. – disse a Joana para quebrar o silêncio
- Obrigada.
- Sim, agora já percebi porquê que o Ruben é assim tão gordo.
- Comidinha da mamã. – disseram juntas
- Gordo? – disse admirado – Estou ofendido. – fingi um amuo
- Realmente manz. Tem uma barriguinha. – disse rindo
Todos riam da situação…
- Goza comigo agora. Isto, não são pessoas, isto é o diabo em forma de miúdas bem… - a minha mãe interrompeu-o
- Vê lá o que vais dizer.
- Miúdas bem-educadas, simpáticas, mas sabem-na toda.
- Ah… Claro.
- Mas então e as meninas, que idade têm? E o que fazem? – perguntou o meu pai
- 17… Ainda estudamos.
- E são de cá?
- Não. Somos de Barcelos, Braga. Mas com a universidade e a proposta do Benfica, viemos para cá.
- Proposta do Benfica? Escapou-me alguma coisa? – disse a minha mãe
- O grande motivo para ter-mos vindo para cá foi a proposta para atletas de voleibol do Benfica.
- Muito bom. Temos de ver um jogo.
- Teremos muito gosto. - sorriu
- E estão cá sozinhas?
- Sim. Era uma oportunidade única. É o Benfica e nós adoramos voleibol. Viemos atrás de um sonho basicamente. – respondeu a Joana
- Nós estamos aqui para vos ajudar, sempre que precisarem.
- Muito obrigado.
- E onde moram, as meninas?
- Em Alvalade.
- Então David á que tomar conta das meninas, sempre estás mais perto delas.
- Tomo sim. – sorriu e olhou a Joana
A conversa foi fluindo entre muito riso… A Joana e o David pareciam ter esquecido o que tinha acontecido esta manhã, pelo menos por algum tempo. Pois mais cedo ou mais tarde iriam ter de falar sobre o assunto.
Queria falar com o David saber como ele está, mas também não queria insistir, ele ainda pensava que me estava a meter na vida dele mais do que o que devia e se falasse sobre isso iria abrir novamente a ferida… Deixei assim, falo com ele amanhã, afinal hoje está tudo a correr melhor, não adianta estragar isso, ele já se lembra por si só… Mas custa-me tanto vê-los a afastarem-se assim, sabendo que gostam um do outro. Ainda não sei qual a doença da Joana em concreto, mas o que vi é grave, mas ela faz com que isso a prenda, faz com que pareça que a vida acabou. Queria tanto poder mudar esse modo dela pensar, não consigo vê-la sofrer e fazer o mano sofrer quando se amam. Porque já todos percebemos que eles se amam… E tenho medo que o David desista dela…
Depois de almoçar-mos e arrumar-mos tudo, sentamo-nos a conversar mais um pouco até que saímos…
Esperamos que gostem
Manas BC*